Como estruturar funding além da taxa de juros para projetos imobiliários eficientes
O acesso ao capital é um dos maiores desafios para incorporadoras e loteadoras no Brasil. A dependência histórica de bancos e capital próprio tem mostrado sinais claros de esgotamento, ao mesmo tempo em que surgem novas alternativas – dos fundos de private equity ao crédito estruturado, passando por formatos programáticos e até o crowdfunding.
Na aula inaugural do Bootcamp Executivo de Funding Imobiliário, conduzida por Bruno Loreto com a participação de André Magrin e Carlos Barcellos, da Imeri Capital, ficou evidente que empreendedores ainda enxergam o funding de forma fragmentada. O debate trouxe luz sobre como olhar para a estrutura completa de capital pode ser determinante para a viabilidade e a rentabilidade de um projeto.
Empreendedores frequentemente têm dificuldade em comunicar seus projetos de forma que desperte credibilidade e interesse no mercado de capitais. Magrin e Barcellos reforçaram que não basta ter uma boa ideia: é preciso traduzir o projeto em uma narrativa sólida, apoiada por dados, governança e clareza financeira.
A preparação inadequada – falta de registros organizados, informações incompletas ou planos financeiros superficiais – costuma ser um dos maiores obstáculos na hora de captar.
Segundo André Magrin, a última década marcou uma transição relevante:
Mudanças na regulamentação e na dinâmica de juros abriram espaço para novas opções, embora o crowdfunding imobiliário ainda seja incipiente no Brasil.
Magrin destacou também que o crédito empresarial no setor imobiliário é mais complexo, pois envolve análise de balanço, garantias e histórico da companhia – exigindo preparo e estrutura.
Carlos Barcellos explicou em detalhe a chamada “capital stack” – a pilha de capital que sustenta um projeto imobiliário. Nela, o empreendedor pode recorrer a:
O grande aprendizado é que não existe financiamento barato ou caro isoladamente: tudo depende da forma como as peças dessa pilha se organizam.
Um dos pontos altos da aula foi a explicação de Carlos sobre como fundos podem estruturar investimentos em projetos imobiliários.
Duas abordagens se destacam:
Barcellos trouxe um exemplo concreto: em uma operação programática, um promotor recebeu o financiamento quase integral de um fundo, manteve participação nos lucros e reduziu drasticamente sua necessidade de equity inicial.
Outro ponto aprofundado foram os diferentes tipos de fundos disponíveis:
A lógica central: fundos oferecem capital e escala, mas exigem governança e visão estratégica do empreendedor.
Magrin e Barcellos destacaram que crédito empresarial exige disciplina. Não basta olhar para o custo do dinheiro – é preciso avaliar:
Um caso real citado foi o da Nasal Incorporadora, que conseguiu crédito relevante utilizando como garantias imóveis comerciais com fluxo de caixa estável.
O aprendizado: empresas bem organizadas e com histórico sólido conseguem negociar condições mais vantajosas e ampliar o leque de investidores.
O debate mostrou que muitos empreendedores ainda caem na armadilha de analisar apenas a taxa de juros. Mas fatores como prazos de repasse, percentual de cobertura, necessidade de equity adicional e condições de garantias podem alterar completamente o resultado econômico do empreendimento.
Em outras palavras: o financiamento “mais caro” pode ser o que traz mais eficiência e retorno líquido.
Bruno Loreto reforçou que dominar os conceitos de instrumentos financeiros, pilha de capital e novas teses de investimento é essencial para que o empreendedor imobiliário não fique refém de bancos ou de capital próprio.
Com fintechs e novos players entrando no setor, o mercado de funding tende a ficar mais dinâmico e competitivo. Mas só quem souber se preparar, estruturar bem seus projetos e falar a língua do investidor vai conseguir acessar essas oportunidades.
A aula inaugural deixou claro: funding não é sobre buscar dinheiro no menor custo possível, mas sobre desenhar a estrutura certa para cada projeto.
Para os empreendedores que querem crescer de forma sustentável, compreender profundamente a capital stack, as alternativas de equity e crédito e a lógica dos fundos institucionais deixou de ser opcional – é uma questão de sobrevivência no mercado.
O primeiro programa destinado a empreendedores e investidores imobiliários