8/5/25

Confiança da Construção cai ao menor nível desde 2022: o que o ICST de abril/25 revela sobre o setor

Índice ICST recua para 93,6 pontos em abril/25; sinais de alerta em demanda, negócios e uso de capacidade.

Este conteúdo foi trazido na edição #129 do Radar Terracotta. Acesse aqui

O Índice de Confiança da Construção (ICST), compilado mensalmente pelo FGV IBRE (link aqui), registrou uma queda de 1,4 ponto em abril de 2025, situando-se em 93,6.

Esse recuo interrompe a leve recuperação observada nos meses anteriores e reforça o cenário de hesitação dos empresários do setor frente a um ambiente econômico ainda permeado por incertezas.

Dois polos em baixa: situação atual e expectativas

O ICST é dividido em dois subíndices: o Índice de Situação Atual (ISA-CST) e o Índice de Expectativas (IE-CST). Em abril, ambos arrefeceram:

  • ISA-CST caiu 1,6 ponto, para 92,6, indicando que a percepção sobre o momento corrente das obras e das vendas encontra-se menos favorável;
  • IE-CST recuou 1,2 ponto, para 94,8, sinalizando que as projeções para os próximos seis meses também se tornaram mais cautelosas.

Essa queda simultânea revela que nem a performance efetiva dos projetos — refletida em ritmo de contratação, desembolsos e execução — nem as expectativas de melhora estão capazes de sustentar a retomada planejada pelos construtores e incorporadores.

Juros altos e incerteza fiscal: o nó que emperra a retomada

Dois fatores têm sido determinantes para esse descrédito:

Custo elevado do crédito

A taxa Selic, ainda próxima de 12,25% ao ano, mantém o crédito para construção e para consumidores em patamar consideravelmente mais caro do que no período de expansão de 2020-2021.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de financiamentos imobiliários contraiu-se 8% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Com isso, empreendimentos que dependem de pré-vendas ou de contratos de longo prazo veem sua viabilidade ameaçada.

Incerteza sobre contas públicas

As discussões em torno de desvios na meta fiscal e do rombo projetado de R$ 100 bi para 2025 abalam a confiança dos investidores em projetos de longo ciclo, como os de infraestrutura ligada à construção civil.

A indefinição sobre cortes de despesas ou novas “pedaladas” no Orçamento reforça a dúvida sobre financiamentos públicos e subsídios, internamente via BNDES, ou programas habitacionais.

NUCI e outros indicadores reforçam o sinal de alerta

O Núcleo de Custos da Construção (NUCI) da FGV IBRE também mostrou desaceleração, com alta de apenas 0,15% em abril, contra 0,27% em março.

Embora o NUCI reflita mais diretamente a diluição de custos de insumos e mão-de-obra, sua moderação indica que nem mesmo a ligeira queda em alguns preços de materiais — cimento, aço e madeira — está conseguindo compensar o efeito dos juros altos.

Paralelamente, o volume de serviços de engenharia registrados no Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi/IBGE) desacelerou para 2,9% de alta anual, contra 4,1% em março. Essa tendência convergente entre vários indicadores sinaliza uma desaceleração generalizada.

Impactos por segmento e regiões

A construção residencial, historicamente mais sensível às condições de crédito, registrou queda de confiança mais pronunciada: o ISA-CST residencial caiu 2,1 pontos.

Já o segmento não residencial (comercial e industrial) apresentou recuo de 1 ponto, mostrando-se um pouco menos vulnerável, mas ainda fragilizado pela escassez de capital para novos galpões, escritórios e lojas.

Regionalmente, os estados do Sudeste — que concentram 60% dos lançamentos imobiliários — mostraram as maiores quedas: São Paulo recuou 1,8 ponto e Rio de Janeiro, 1,5 ponto.

No Norte e Nordeste, a retração foi mais moderada, mas já sinaliza que projetos de habitação econômica, muitos deles ligados a programas federais, poderão sofrer atrasos.

Perspectivas e caminhos para sair do impasse

Embora o cenário seja de cautela, há pontos que podem ajudar a indústria a contornar esse momento:

  • Aperfeiçoamento de linhas de financiamento: propostas para alongar prazos de carência e diminuir taxas de amortização em programas como Casa Verde e Amarela podem aliviar o custo efetivo total do crédito.
  • Parcerias público-privadas e concessões: a adoção de modelos híbridos de investimento em infraestrutura, com participação de construtoras privadas, pode deslocar parte do risco fiscal e atrair capital a custos mais competitivos.
  • Inovação em produtividade: uso de técnicas construtivas aceleradas, como industrialização parcial em fábrica (off-site), impressão 3D de componentes e gestão digital de canteiros, começa a reduzir custos operacionais e prazo de entrega, compensando juros altos.
  • Segurança jurídica e previsibilidade: avanço em reformas, como a que trata do licenciamento ambiental e da regularização fundiária, daria maior clareza a cronogramas e custos previstos.

A baixa no Índice de Confiança da Construção em abril de 2025 não significa apenas um ajuste estatístico, mas um sinal de que o setor encontra-se à deriva em meio a ventos contrários — juros elevados, restrições fiscais e lentidão regulatória.

Para retomar um ciclo virtuoso de investimentos e aquecer o mercado de obras, serão necessárias medidas coordenadas entre governo, instituições financeiras e empresas da cadeia produtiva.

A consolidação de um ambiente de crédito mais acessível, combinado a avanços regulatórios e à adoção de métodos construtivos mais eficientes, poderá reacender a esperança de um novo boom na construção civil brasileira.

Fonte dos dados: FGV IBRE (ICST e NUCI); Abecip; IBGE (Sinapi).

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