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Coliving: entenda esse conceito de moradia

28 de julho de 2020

Você deve lembrar das repúblicas de faculdade, ter escutado sobre morar em albergues ou conhecer alguém que divide sua casa com mais pessoas. Todos esses exemplos ilustram formas de viver compartilhando. Morar nesses moldes pode ser muito comum ao redor do mundo e vem se tornando popular no Brasil, vamos conhecer mais sobre esse mercado que está se tornando formal?

Coliving é o nome dado a coabitação de pessoas em quartos individuais ou compartilhados, com acesso a amenidades, tais como áreas compartilhadas de cozinha, lavanderia e serviço de limpeza. Esse modelo de habitação tem se tornado mais conhecido no Brasil devido aos players que começaram a explorar esse mercado.

Dentro desse nicho de coabitação existe além do Coliving, as coabitações para públicos específicos como estudantes, essas habitações são chamadas de student living. Existem também habitações compartilhadas para idosos, independentes e dependentes, os senior livings. No estudo de hoje concentramos nosso foco apenas nos Colivings, considerando aqueles que não possuem um foco específico de atendimento e costumam ter como alvos, jovens e adultos. 

Contexto mundial e desafios do mercado

Mundialmente o mercado de coliving vem sendo explorado de forma consistente por diversos países, alguns tendo mercados mais antigos e maduros enquanto outros, começam a explorar esse nicho da habitação. Em 2019 esse mercado movimentou, segundo o Global Coliving Report, 3.75 bilhões de dólares em investimento, sendo que a China sozinha foi responsável por 2,2 bilhões, o que representa mais de sessenta por cento do montante.

Fonte: Global Coliving Report

Realizando uma análise dos principais players que atuam mundialmente, podemos observar características comuns em suas operações, algumas delas são: processo de compra totalmente digital, menor burocracia no processo de locação, aprovações de forma facilitada, contratos flexíveis, padrão de imóveis e serviços entre unidades.

De forma geral as operações desse modelo de moradia podem enfrentar algumas dificuldades. Uma delas é o conhecimento baixo da população sobre o modelo, o que pode carregar alguns preconceitos e visões distorcidas. E assim como para a população isso é uma novidade, também é para as políticas públicas, em muitos países não existem legislações e normas tributárias claras para os Colivings.

Por ser uma indústria nova, os processos e a qualidade das operações ainda vem sendo construídos. Não existir um legado extenso de experiência na área, traz o desafio de manter a experiência do usuário sempre alta e ao mesmo tempo angariar e treinar pessoas qualificadas para realizar a operação.

Análises do mercado

Como comentado anteriormente, no contexto mundial identificamos países com operações grandes e relativamente maduras e também identificamos países com operações em desenvolvimento. Vamos realizar uma análise do contexto mundial do mercado de Coliving.

Na China o aumento da urbanização e migração da população dos campos para as cidades, trouxe a necessidade de otimizar espaços e encontrar soluções de habitação que condizem com a realidade vivida. Sendo assim, a China foi pioneira nesse mercado e possui atualmente 2 milhões de pessoas vivendo em colivings por todo seu território. O maior player chinês é a startup Ziroom, fundada em 2011, ela detém 70% do mercado em número de locatários e já levantou mais de 1 bilhão de dólares de investimento.

Um dos quartos da Ziroom na China

A Índia é o segundo maior mercado mundial, com um total de 130 mil locatários. Uma grande quantidade de jovens millennials qualificados que estão entrando na força de trabalho com bons salários estão buscando por moradias adequadas e possuem dificuldade de encontrar isso por meio dos aluguéis tradicionais, enxergando no coliving a solução de suas necessidades.

Coliving da Nestaway na Índia

A quantidade de operadores tem aumentado nos últimos anos nos Estados Unidos, mas o país ainda é considerado um motor lento nesse nicho, por ainda não ter sido realizado um impacto de alta escala. Espera-se que nos próximos anos aconteça um crescimento significativo. A Bungalow, principal player americano, foi fundado em 2016 e já recebeu 96 milhões de dólares em investimento, tendo hoje 2.800 locatários.

Dados: Global Coliving Report

Contexto Brasileiro

A similaridade demográfica e socioeconômica de países latinos com os asiáticos e orientais sugere que o coliving é uma tendência que pode alavancar nos próximos anos na América do Sul.

Nos últimos três anos no Brasil tem começado a crescer o número de players e opções no mercado de coliving, que tendem a iniciar suas operações nas grandes metrópoles do país devido a densidade populacional. Vamos conhecer alguns players brasileiros?

A proptech Yuca, opera 16 apartamentos em São Paulo. Realizando a compra dos apartamentos em bairros estratégicos da cidades, eles realizam reformas e decoração para deixar o local em suas configurações padrões. Os apartamentos costumam ser de três a quatro quartos e possuem diversas comodidades e serviços acoplados ao valor pago pelo aluguel.

Área comum de apartamento da Yuca

A Oka, localizada no Rio Grande do Sul, aluga prédios, andares ou apartamentos e também faz alguns ajustes para que se adeque a operação de compartilhamento de espaços. Eles possuem um viés forte para a construção de comunidade entre os membros que lá vivem, isso é feito através do incentivo a eventos e confraternizações.

Já a startup Kasa construiu um empreendimento que contém 243 apartamentos na Vila Olímpia em São Paulo. O edifício possui áreas compartilhadas e também serviços opcionais disponíveis para o morador. As reservas de quarto podem ser feitas com no mínimo trinta dias e contam com internet e outras comodidades incluídas.

Edifício da Kasa em São Paulo

O compartilhamento durante a pandemia

Observamos diversos mercados explorarem a tendência de economia compartilhada, não apenas o de real estate. Trazendo o conceito de o indivíduo possuir menos posses e ter preferência pelo acesso a locais ou itens, seja por meio de divisão ou locação.

É fato que muitos desses negócios sentiram o impacto da pandemia refletirem na demanda. Uma pesquisa da Coworking Brasil realizada no mês de abril de 2020 mostrou que 73% dos espaços estavam fechados e que menos de 30% das empresas acreditavam ser capazes de segurar 2 meses sem faturamento.

Já no mercado de coliving a startup Yuca afirmou em entrevista para a Startupi que identificou uma queda nas inscrições de aluguel em abril e postergação da mudança. Entretanto, já em junho houve uma forte retomada, e o mês se mostrou o mais representativo em número de inscrições até o momento.

A popularização do modelo

De forma geral os Colivings operam de 3 maneiras: compra de um imóvel e adaptação para a vida compartilhada; aluguel de um imóvel com longos contratos e adaptação para vida compartilhada ou construção de edifícios com objetivo final de compartilhamento.

A monetização desse modelo de negócio é através da diferença entre a soma das receitas geradas com os aluguéis mais o valor despendido na operação e o valor pago ao espaço que está sendo ocupado pela sede.

Falando de futuro, o que podemos esperar desse nicho de mercado é um aumento de players entrantes advindos do mercado imobiliário, principalmente de empresas que desejam diversificar portfólios e riscos. O ramo da hospitalidade, os hotéis também enxergam esse mercado com bons olhos, afinal, possuem experiência nesse tipo de operação.

Espera-se o nascimento e a popularização do modelo de Coliving em regiões menos exploradas ao redor do mundo. E em mercados mais consolidados a expectativa é ver grandes players levantando rodadas de investimento ainda mais altas e se consolidando. Afinal, o grande desafio em escalar esse modelo de negócios está ligado a operação. 

E para encontrar startups com soluções que tenham demanda no mercado imobiliário, acesse o mapa de startups. Nele você conhece todas as construtechs e proptechs da américa latina.

Escrito por Maria Eduarda Demaria