Em 2016 o mercado de construção e setor imobiliário começou a conhecer a revolução das Construtechs e Proptechs, startups que nasceram para resolver grandes problemas do setor buscando desenvolver novas soluções, encontrar modelos de negócios escaláveis, e trazer inovação a um dos mercados mais conservadores e tradicionais.
De lá para cá o ecossistema de startups no setor evoluiu muito. Em 2016 havia cerca de 250 iniciativas no segmento, e ainda poucas grandes empresas olhando para inovação. Em 2019 fechamos o ano com mais de 600 Construtechs e Proptechs ativas no setor, o primeiro unicórnio na vertical, e inúmeras empresas e investidores apostando nesse movimento de inovação.
Os números reforçam a evolução que esse mercado vem observando.
De acordo com o nosso radar na Terracotta Ventures, em 2018, cerca de 21 startups captaram um total de 521 milhões de reais em investimentos, em 2019 atingimos a marca histórica de 1.9 bilhões de reais em cerca de 26 deals realizados no Brasil.
Os descrentes vão afirmar que apenas o Quinto Andar captou 1 bilhão, por isso o número é grande. Sim, essa é uma verdade, mas vale lembrar que o mercado de investimentos em startups é sim marcado por essa característica de alta concentração, 20% dos negócios movimentam 80% dos recursos, em qualquer segmento de startups.
Mesmo desconsiderando o gigante da locação de imóveis, ainda sim o crescimento foi expressivo em relação ao ano anterior.
É inegável a evolução que esse ecossistema apresentou, mas o que esperar pela frente?
Se o mercado aos poucos vai se acostumando com a revolução das startups que chegam ao setor, em 2020 começará a conhecer e sentir os impactos de outro jargão famoso no universo de inovação: as Scale-Ups.
Enquanto uma startup é caracterizada por representar uma iniciativa que está em fase de validação, diante de cenário de extrema incerteza e tentando provar que existe um produto e modelo de negócio escalável; o termo Scale-Up nasceu para representar aquelas empresas que já mudaram de patamar e conseguiram chegar a fase de crescimento, já com modelo de negócio provado.
A Endeavor, uma das principais organizações de apoio ao empreendedorismo no mundo, abraçou o termo a partir de 2017 e com isso fortaleceu sua utilização junto ao mercado.
Mas o que diferencia uma Startup de uma Scale-Up?
Alguns parâmetros podem ser usados para caracterizar uma empresa Scale-Up:
- Faturamento anual acima de 1M de reais
- Histórico de crescimento acelerado
- Modelo de negócio validado (já sabe qual o problema, quem é o cliente, qual o produto e como escalar)
- Geralmente possuem times que já superam a marca de 30 pessoas
![J Curve J Curve](http://custom-images.strikinglycdn.com/res/hrscywv4p/image/upload/c_limit,fl_lossy,h_9000,w_1200,f_auto,q_auto/1900736/142999_361054.png)
Mas por que existe um termo específico para essa fase?
A verdade é que as terminologias ajudam a agrupar unidades com características comuns, um dos motivos de diferenciar as startups das Scale-Ups é para simplificar a diferenciação entre aquelas empresas que estão em uma fase inicial, possuindo um tipo de necessidade de apoio, capital e grau de maturidade; e as empresas mais maduras, nos quais mudam os desafios apresentados pelos empreendedores e consequentemente as necessidades que possuem.
No mercado financeiro é comum ver especialistas insistindo em educar as pessoas sobre a importância de entender o efeito exponencial que os juros compostos podem proporcionar. O mesmo vale quando estamos falando de startup e scale-ups.
O objetivo de uma iniciativa que inicia como startup é validar um modelo de negócio escalável.
O caminho para se tornar unicórnio, mostra que o ritmo desejado de crescimento deve seguir o padrão T2D3 (Triple, Triple, double, double, double) O que significa que uma startup uma vez atingido product market fit e um patamar de 1M de receita anual, deve triplicar de tamanho por dois anos, e dobrar de tamanho por outros três.
Na prática significa que enquanto a sua empresa construtora, incorporadora, imobiliária de alto desempenho, sofre para crescer 20% ao ano, uma startup que encontrou o caminho de sucesso se move em uma velocidade muito maior.
![Metodo T2D3 Metodo T2D3](http://custom-images.strikinglycdn.com/res/hrscywv4p/image/upload/c_limit,fl_lossy,h_9000,w_1200,f_auto,q_auto/1900736/931629_37635.jpeg)
Para tangibilizar vou simular um caso prático.
Imagina que você tem uma imobiliária que fatura 20 milhões de reais por ano, quando olha para uma Scale-up que recém atingiu a marca de 1 milhão de reais em receitas pode parecer que a mesma não lhe ameaça, pode insistir em acreditar que ela não vai dar certo, ou mesmo que você pode passar por cima dela. Mas veja o que ocorre ao longo de um ciclo de 10 anos se a mesma possui sucesso.
O resultado é que no início você é 20 vezes maior que ela, mas em menos de cinco anos ela se torna maior que você e avança em um ritmo avassalador.
Vale ainda lembrar que crescer a um ritmo de 20% ao ano por mais de três anos consecutivos é característica apenas de empresas de alto crescimento, o que no Brasil representam menos de 1% dos negócios.
![Empresa tradicional vs Scale-Up Empresa tradicional vs Scale-Up](http://custom-images.strikinglycdn.com/res/hrscywv4p/image/upload/c_limit,fl_lossy,h_9000,w_1200,f_auto,q_auto/1900736/432136_887419.png)
Muitas vezes uma startup desperta a descrença dos profissionais e empresas tradicionais do setor, o que é normal, uma vez que por natureza quando uma startup começa o objetivo é justamente criar algo novo, fazer de uma forma diferente, quebrar paradigmas e com isso obter sucesso por meio de alguma diferença na forma de fazer negócios em relação aos players atuais.
A jornada é repleta de riscos, a maioria falha e fica pelo caminho, alguns demoram mas conseguem pivotar e redirecionar o negócio. Por isso é natural que apenas clientes early adopters e investidores anjo apostem nas iniciativas nesses estágios iniciais, momento onde receita é pouco relevante ou mesmo inexistente e o produto está longe de encantar aos olhos do mercado.
Como investidor, muitas vezes escuto de pessoas do setor que determinada startup não vai dar certo, por que o mercado é isso, ou por que o cliente é aquilo, ou mesmo por que é muito complexo fazer tal coisa. A questão é, e se ela conseguir? É isso que precisamos avaliar em uma empresa nesse estágio, o que muda se a tese for realizada e o quanto o time é capaz de atingir isso.
O que muda nas Scale-Ups é que o nível de incerteza já é bastante diferente, muitas vezes o produto já conquistou um nível de maturidade e um histórico junto a clientes que prova sua proposta de valor. As receitas da empresa começam a ser expressivas, e crescem em ritmo exponencial. Nesse cenário a empresa começa a atrair maiores montantes de capital, o que permite acelerar ainda mais o crescimento e começar a ganhar relevância em termos de participação no mercado.
Vimos nos últimos dois anos um crescimento no volume de startups Construtechs e Proptechs, muitas delas vem avançando, mais de 47 captaram rodadas de investimento nesse período, e em 2020 naturalmente algumas delas começarão a atingir um patamar onde deixam de passar despercebidas pelo mercado.
Em 2020 teremos novas empresas Construtechs e Proptechs captando rodadas de investimentos acima de 10, 20, 30 milhões de reais, Scale-Ups aparecendo e expandindo por diferentes territórios, mercados tradicionais passando a sentir a concorrência de novos atores, novos mercados se formando, ditando novos comportamentos.
Muda também a relação de grandes empresas com essas iniciativas. Enquanto startups ainda geram mais dúvidas do que certezas e raramente conseguem comportar a escala de demanda que uma grande corporação pode proporcionar, as Scale-ups podem fazer parcerias mais sólidas, atender demandas mais complexas ou mesmo competir com maior força em determinados mercados, começando a “incomodar”.
Quem ganha com tudo isso são os clientes, seja por parte das startups Construtechs e Proptechs que tiveram sucesso em sua tese de negócio e chegaram a próxima etapa ou por decorrência da reação das empresas tradicionais. O resultado é uma oferta de melhores produtos e serviços chegando ao mercado, gerando inevitavelmente impacto positivo no ambiente de moradia e infraestrutura no Brasil.
Quais são minhas apostas de Scale-Ups que vão se destacar em 2020? Essa é a essência da Terracotta Ventures, investir nas melhores construtechs e proptechs do país, mas deixo essa resposta para um novo post ;)
Bruno Loreto — loreto@terracotta.ventures